sexta-feira, 24 de junho de 2011

O amor segundo Maiakóvski

Nestes tempos negros, onde o amor é vítima de preconceitos mesquinhos de quem se diz guardião dos bons costumes de uma classe hipócrita, de quem se esconde por trás de supostos valores cristãos para exercer seu preconceito e sua intolerância, invoquemos o grande poeta russo Vladimir Maiakóvski, que, em outros tempos, se insurgiu contra a igualmente mesquinha mentalidade burguesa. Olhemos para cima, para o alto, lá onde ele está.

Vladimir Maiakóvski (1893-1930)

O Amor
(Vladimir Maiakóvski)

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.

2 comentários:

  1. Ah, que coisa mais bonita isso, muito bem postado! Sempre me emociono quando ouço a música baseada nesse poema. Demais. Retribuindo..:
    ".... não importa o que possa me acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético. Lendo teus versos, aprendi a ter coragem."...... (No Caminho, com Maiakóvski, Eduardo Alves da Costa).

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  2. Eu também adoro a música, Bia. Vou procurar esse poema do Eduardo Alves da Costa.

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