quarta-feira, 22 de junho de 2011

A cornucópia de Wagner Willian

Faunus, 80x50cm, óleo s/tela, 2009
A primeira vez em que ouvi falar de Wagner Willian foi num singelo post no Facebook de Jorge Coli, professor de História da Arte e da Cultura da Unicamp e cronista da Folha de S.Paulo. E logo me ocorreu: como um artista tão brilhante não é conhecido do grande público? Mesmo numa época em que a pintura figurativa está em alta (as marés sobem e descem há quase um século) nós continuamos negligenciando os nossos talentos. E Wagner é um talento excepcional, uma força bruta que não conhece nem admite limitações de nenhuma espécie. Mas ele permanece no seu ringue, que é a pintura figurativa, e não há de arredar o pé por nenhum modismo ou frescura pós-qualquer-coisa.

Fragile, 80x50cm, óleo, acrílica e extrato de nogueira s/ tela, 2011

Ele nasceu em Natal, RN, em 1978, e vive em São Paulo há algum tempo. Entrou em escolinhas de pintura e na faculdade de belas artes, mas não terminou nem o primeiro semestre, segundo me informa, e mandou tudo às favas. Não que ele precisasse de orientação ou doutrinamento. Tudo que ele precisa é de um pouco de espaço para desferir um uppercut no nosso queixo e nos deixar a ver estrelas com sua cornucópia de imagens e referências.
Wagner é, antes de mais nada, um pintor excepcional, com grande domínio técnico. Seus quadros compõem séries, às quais ele dá títulos que nos posicionam quanto às referências que os inspiraram, mas que ao mesmo tempo nos confudem e estimulam. Num dos quadros da série Relativismo Cultural, vemos a imagem em preto e branco de Kirk Douglas no filme "O Invencível" (1949), seu corpo coberto de imagens que vão de Grande Otelo ao Amigo da Onça, passando por Nelson Rodrigues e a imagem de Nossa Senhora Aparecida. O título do quadro é "Docinho do Caju".

Docinho de Caju, 120x80cm, 2011

Suas imagens também emulam clássicos da pintura, onde Wagner demonstra virtuosismo. Mas ele não deseja venerar nem ser venerado; antes, quer nos instigar com um coquetel de imagens onde entram a arte oriental, seres mitológicos, o lixo televisivo, o sincretismo religioso, personagens de desenho animado, o "McMerda", o "Porra Chiqs", os amigos, as odes ao cigarro, a pornografia. Na estupenda série Sobre Instintos Primários, cujo quadro "Uma Tarde de Domingo" vê-se abaixo, mulheres nuas ou seminuas assumem cabeças de animais, enquanto na série Da Espiritualidade na Arte, cuja pintura "Fragile" (acima) faz parte, vê-se uma cadela com cabeça humana. O porco é uma imagem recorrente. Escreveu George Orwell, em "Revolução dos Bichos": "Já não se podia saber quem era homem, quem era porco". Wagner acrescenta: "Há uma nova humanidade, e ela é bestial". Um jab, dois passos para trás. Wagner parece nos mostrar todo um universo de possibilidades em meio à nossa estupidez. E ele nos fita os olhos, tal qual seu Kirk Douglas sincrético: "Vai encarar?"

Uma Tarde de Domingo, 50x80cm, óleo e acrílica s/ tela, 2011
E agora teremos a chance de ver essas obras ao vivo, a partir do dia 30 de junho, a partir das 19h, na Galeria Vertente, em Campinas. Wagner exibirá obras das séries Relativismo Cultural, Maracutaia, Nicotina e Nua e Crua. Para quem não puder, todas as suas séries podem ser vistas em seu ótimo site, cujo link está aqui ao lado. É muito bom ver um talento assim. Eu sou um apaixonado pela pintura. No meu "embate" com Wagner Willian, levei um gancho de direita e fui nocauteado.

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