segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Robert Mapplethorpe (1946-1989)

Autorretrato, 1985

Em postagem de 14 de julho último, sobre Fotografia Erótica, mencionei a polêmica gerada em 1989 pela exposição The Perfect Moment, do fotógrafo nova-iorquino Robert Mapplethorpe, quando congressistas norte-americanos criticaram o uso de dinheiro público para financiar uma arte que continha imagens pornográficas e sadomasoquistas. Essa foi a tônica da vida e do trabalho de Mappethorpe, um dos mais importantes fotógrafos americanos do século passado.

Lisa Lyon, 1981
Charles Bowman, Torso, 1980

Mapplethorpe, de família católica de origem inglesa e irlandesa, nasceu no Queens, em Nova York. Estudou Artes Plásticas no Pratt Institute do Brooklyn, com especialização em Artes Gráficas, mas não chegou a terminar o curso, abandonando a escola em 1969. A príncipio, ele criava trabalhos em técnica mista, em colagens que incluíam fotos retiradas de livros e revistas. Daí veio a decisão de comprar uma câmera Polaroid, em 1970, e fazer suas próprias fotos. Segundo ele, dessa forma ele se sentia "mais honesto".

Patti Smith, 1976
Deborah Harry, 1978

Em 1967, ele inicia um relacionamento de sete anos com a cantora Patti Smith, e após assumir-se gay, eles mantêm-se amigos até sua morte, em 1989. A Companhia das Letras lançou recentemente no Brasil o livro "Só Garotos" ("Just Kids") de Smith, onde ela relembra o seu relacionamento com o fotógrafo, e pelo qual ela ganhou o National Book Awards em 2010.

Calla Lily, 19787
Lisa with Scorpion, 1980

Em 1975, Mapplethorpe adquire uma câmera Hasselblad de médio formato, e começa a retratar o seu círculo de amigos: artistas, músicos, socialites, atores pornôs e membros de clubes sadomasoquistas. Ele também faz trabalhos comerciais, como capas de álbuns de Patti Smith e do grupo Television e ensaios para a revista Interview, criada por Andy Warhol.

Ken Moody and Robert Sherman, 1984

No final dos anos 70, ele se interessa cada vez mais pelo submundo do S&M, produzindo as tais imagens que chocaram os congressistas e parte do público americano. Disse Mapplethorpe: "Eu não gosto muito da palavra 'chocante'. Eu procuro o inesperado, eu procuro coisas que nunca vi. Eu me vi numa posição de tirar essas fotos, e me senti obrigado a fazê-lo".

Autorretrato, 1975

Durante os anos 80, sua reputação cresceu, com exposições em importantes museus ao redor do mundo. Dono de um estilo rigoroso, ele produziu séries que incluiram retratos de celebridades, nus masculinos e femininos, estudos de estátuas e flores, além de inúmeros autorretratos. Em 1986, foi diagnosticado com a AIDS. Em 1988, ganhou uma grande retrospectiva no Whitney Museum, vindo a morrer no ano seguinte.


Robert e Patti em 1969, em foto de Norman Seeff


Para acessar o site do Robert Mapplethorpe Foundation, clique no link na barra ao lado.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Museum Syndicate

Caravaggio, O Sacrificio de Isaac

Hoje eu gostaria de indicar um simpático site chamado Museum Syndicate, que possui mais de 54 mil imagens de obras de arte dividias em pintura, escultura e fotografia. Ha também sessões dedicadas a museus e países, assim como a objetos astecas e do Egito Antigo, por exemplo.

Jean-Auguste Dominique Ingres, Princesa Albert de Broglie

Na lista de pintores, há mais clássicos, como o barroco Caravaggio, o  neoclássico Ingres e o romântico  William Turner, que postei aqui, embora também seja possível ver algumas obras de artistas modernos e alguns contemporâneos - há até imagens do urban artist britânico Bansky!

William Turner, Regulus

Mas o mais interessante, embora um tanto pueril, confesso, que é possível escolher qualquer pintura, clicar em Jigsaw Puzzle - click here to play e a imagem se transforma num quebra-cabeça para você montar. É uma forma boa de passar o tempo, naqueles dias em que você está entediado até a medula. De quebra, você acaba vendo detalhes da pintura que haviam passado despercebidos à primeira vista.

Para acessar o Museum Syndicate, clique na barra de links ao lado

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Afogando em traduções

Andy Warhol e a musa trágica Edie Sedgwick que, segundo consta, foi a quem Bob Dylan se dirigiu ao escrever "Like a Rolling Stone"

Só passei aqui para me desculpar, porque desde o dia 20/10 eu não publico nenhuma postagem. É porque, nos últimos dias, estou traduzindo para quatro clientes ao mesmo tempo. Logo, logo voltarei a postar algo. Por ora, deixo apenas uma frase do grande Andy Warhol, para refletirmos um pouco sobre a loucura do mundo das artes:

"Não sei por que as pessoas dão tanto valor 
aos artistas. É um emprego como outro qualquer."
- Andy Warhol

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Asgar/Gabriel

Keine Sorge uns geths gut, óleo sobre tela, 220x450cm, 2007

No dia 2 de setembro último eu escrevi sobre a dupla Muntean & Rosenblum, e disse que conhecia poucas duplas de criadores nas artes plásticas (Gilbert & George, por exemplo). Mas eis que descubro outra dupla residente na Áustria, Asgar/Gabriel, que aparentemente pegou a ideia dos colegas e a levou ao extremo: mais cores, mais realismo, mais exagero, mas tendo como tema também uma visão crítica da adolescência.

I used to live in Arcadia, óleo sobre tela, 220x250cm, 2008


Daryoush Asgar nasceu em 1975 em Teerã. Durante a guerra Irã-Iraque, sua família migrou para a Áustria. De 1996 a 2000, ele estudou na Academia de Artes Plásticas de Viena. Exímio pintor realista, exibiu seus trabalhos em vários países, e em 2002 ganhou o Prêmio Strabag na Áustria.

Utopia, óleo sobre tela, 260x450cm, 2009

Elizabeth Gabriel nasceu em 1974 em Viena. De 1988 a 90, estudou piano na Academia de Música e Artes Performáticas. De 1994 a 2000, estudou Filosofia e Literatura na Universidade de Viena. Sua tese foi sobre a Teoria Estética de Adorno. Após se formar, trabalhou no teatro em Viena, Berlim e Bern, na Suíça. Eis aí outra similaridade com os colegas: Markus Muntean é austríaco e Adi Rosenblum é israelense.

Do you want to escape?, óleo sobre tela, 220x270cm, 2008

A dupla trabalha com o que chama de "historização do momento", com referências a pinturas barrocas e do Século 19 (que evoluiu do Romantismo para o Realismo), retratando uma geração que procura desesperadamente por novos mitos, "entre o êxtase e o pesadelo".

The dark is my delight, óleo sobre tela, 220x450cm, 2007
Die Leute schlafen schon, óleo sobre tela, 220x700cm, 2008

O processo criativo da dulpa começa com fotografias escolhidas aos montes na mídia impressa e na Internet, fotos que são compiladas, rearranjadas e trabalhadas digitalmente, antes de serem finalmente pintadas sobre a tela - geralmente de dimensões monumentais, algumas passando de sete metros de largura.

Kunst is Anarchie, óleo sobre tela, 300x760cm, 2011


Uma curiosidade: Asgar e Gabriel começaram sua parceria na década de 90, tocando numa banda de rock de garagem. Em 2002, eles se mudaram para Berlim, onde começaram a pintar, ficando lá durante três anos. Em 2005, mudaram-se para Viena, onde vivem e trabalham até hoje.

In den hohen Wellen unserer Abenteuer, óleo sobre tela, 270x380, 2010



Asgar/Gabriel


Para ver mais trabalhos, acesse o site da dupla na barra de links ao lado

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vincent Desiderio

Boating Party, óleo sobre papel, 152x121cm, 2010

Vincent Desiderio nasceu em 1955 na Filadélfia, no estado da Pensilvânia, e segue a longa tradição dos pintores realistas norte-americanos. Formou-se em Artes Plásticas e História da Arte pelo Haverford College, depois estudando durante um ano na Accademia di Belle Arti, em Florença, na Itália.

Sink, óleo sobre papel, 121x162cm, 2010
Aftermath, óleo sobre papel, 20x25cm, 2009

Seus temas muitas vezes são estudos clássicos, onde parece apenas exibir técnica, mas por vezes o artista a alia a uma visão mais pessoal que gera obras mais interessante - em particular, uma certa obsessão com a morte.

My Father Fallen, óleo sobre papel, 33x40cm, 2009
Pigs, óleo sobre tela, 170x119cm, 2006

Desiderio participou das primeiras exposições coletivas em 1979, e sua última individual foi em 2011 na Marlborough Gallery, em Nova York, que o representa.

Mourning and Fecundity, óleo sobre tela, 246x375cm, 2007

Hanging Man, óleo sobre tela, 177x185cm, 2006


Para ver mais trabalhos de Vincent Desiderio (e outros artistas da Marlborough Gallery), clique na barra de links ao lado.

domingo, 16 de outubro de 2011

James Benjamin Franklin

The Attempt, acrílica e resina sobre tela, 40x45cm, 2006

O que dizer de um pintor que lista entre suas influências Richard Diebenkorn e Woody Allen? O resultado só poderia ser alguém como James Benjamin Franklin, com suas pinturas desconcertantes de tão diretas, tão cruas, tão coloridas, tão estranhas e tão familiares.

Ways and Means, acrílica e resina sobre tela, 107x83cm, 2009
The Appointment, acrílica e resina sobre tela, 30x33cm, 2004

Pouco sei sobre Franklin; apenas que ele nasceu em Tacoma, no estado de Washington, e decidiu virar artistas após uma visita escolar aos museus de Nova York - onde vive hoje, em Brooklyn. Suas imagens vez ou outra ilustram matérias em revistas americanas, e ele começou a expor em galerias pelo país em 2004. Sua última exposição individual foi em 2010, na galeria KRETS, em Malmö, na Suécia.

Prayer, acrílica e resina sobre tela, 38x35cm, 2006
Revealing What Remains, acrílica e resina sobre tela, 83x107cm, 2009

Franklin faz pinturas em tintas acrílica e vinílica e resina, em pequenos e médios formatos, com muitas áreas chapas em cores primárias e secundárias, e uma liberdade na representação de pessoas e ambientes que lembra o desprendimento de desenhos infantis. Mas não se enganem: tudo é concebido para transmitir exatamente esse sentimento de que falei acima -  diante de suas imagens, temos a incômoda sensação de nos percebermos em atitudes pequenas e mesquinhas, ou em nosso abandono em face do amor. É como se o artista nos dissesse: não merecemos a dramaticidade e a elegância de um Velásquez - nossa vida é pequena demais para isso.

The Fall, vinílica e resina em MDF, 15x12cm, 2006
Lovers, acrílica e resina sobre madeira, 17x12cm, 2003

Suas situações me lembram o trabalho de Mike Judge, o criador de Beavis & Butt-head e King of the Hill, com sua crítica ácida e bem-humorada à nossa sociedade. Se Mike Judge tivesse decidido pintar quadros ao invés de criar desenhos animados, talvez fizesse algo parecido com o trabalho de James Benjamin Franklin. Diante da forma como Franklin nos retrata, até o romantismo se revela algo ridículo.

Drifting, vinílica e resina sobre tela, 66x76cm, 2007
Half Off, acrílica e resina sobre tela, 40x45cm, 2006


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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Gregory Crewdson


Veja a foto acima. Ela parece um still de um filme - nela, vemos um homem (um personagem?) à chuva, a porta do carro entreaberta, a sua maleta no chão. Podemos apenas imaginar o que o levou a quedar-se dessa forma, no meio da rua. O carro não foi estacionado cuidadosamente - antes foi abandonado, enviesado, próximo ao meio-fio. Nada sabemos sobre esse homem, mas podemos imaginar muitas coisas, e é exatamente isso que deseja o autor da foto, o norte-americano Gregory Crewdson.


Crewdson nasceu 1962 em Nova York, onde continua a morar e trabalhar. Quando ele tinha dez anos de idade, seu pai, que era psicanalista, o levou para ver uma exposição de Diane Arbus no MoMA, experiência que mais tarde o levaria a abraçar a fotografia - não sem antes tocar na banda punk nova-iorquina The Speedies, ainda adolescente.


Suas fotografias exigem uma produção digna de cinema, com dezenas de pessoas envolvidas e, obviamente, orçamentos altíssimos. A influência do cinema é confessa, e ele cita filmes de Alfred Hitchcock, David Lynch e Steven Spielberg; na pintura, não há como negar a marca de Edward Hopper - embora acrescido de dramaticidade.



Apesar disso, Crewdson reconhece o limite da fotografia em termos de narrativa - pois se trata de "uma imagem congelada no tempo, sem antes nem depois". Segundo o texto de apresentação no site de sua galeria, a White Cube, o talento de Crewdson está em transformar essa limitação numa força única.




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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Rodrigo Cunha

Autorretrato, acrílica sobre tela, s/d

Desde o final da década de 90, eu acompanho a obra do pintor Rodrigo Cunha, desde seus trabalhos expostos nas Anuais da FAAP (em 1998 e 1999) e suas individuais na Galeria Thomas Cohn (em 2000, 2001 e 2003). Trata-se de um pintor estupendo, de temperamento quixotesco, totalmente comprometido com a pintura - em seus moldes mais clássicos.

Sem título, acrílica sobre tela, s/d
Sem título, acrílica sobre tela, s/d

Nascido em Niterói, RJ, em 1976, Rodrigo cedo começou a desenhar. Ao ganhar do pai um estojo de pintura, descobriu uma paixão e algo que desejava fazer pelo resto da vida. Radicado em São Paulo desde 1993, ele foi reconhecido tão logo terminou seus estudos, mas sempre foi, de certa forma, um solitário. Numa época em que a pintura estava em baixa e os artistas abraçavam os novos suportes e as novas tecnologias com voracidade, Rodrigo era considerado, por muitos de seus pares, um purista. A recíproca era verdadeira - Rodrigo sempre desprezou as novidades da arte contemporânea.

Sem título, acrílica sobre tela, s/d
Jogadores de Carta, acrílica sobre tela, 161x140cm, s/d

Sua integridade - ou seu radicalismo, segundo alguns - se manifesta até mesmo no âmbito da pintura: Rodrigo só acredita em pintura feita a partir da observação da realidade, com modelos vivos. Aí já temos excluída boa parte da pintura contemporânea, em grande parte dependente da fotografia, por escolha ou por praticidade. De fato, com pintor, posso atestar a dificuldade e o desafio que é pintar a partir de modelos vivos. Mas Rodrigo não está sozinho, absolutamente, e posso citar dois grande artistas contemporâneos que estão entre os meus favoritos e só pintam dessa forma: o recém-falecido Lucian Freud e o chinês Liu Xiaodong.

Sem título, acrílica sobre tela s/d
Sem título, acrílica sobre tela, s/d

Em 2009, Rodrigo Cunha ganhou o pretigioso Prêmio Fundação Bunge, ano em que fez também uma exposição individual na Galeria Baró Cruz. Atualmente ele é representado pela Galeria de Arte André, onde participou de mostra coletiva este ano.

Autorretrato, acrílica sobre tela, s/d

Entre seus ídolos maiores, Rodrigo lista Rembrandt e Van Gogh. Sobre o primeiro, ele comenta: "A pintura é a minha religião. Eu acredito no Belo. Quando eu vejo um Rembrandt, eu penso: isso é belo. É belo de verdade. Eu me emociono". De minha parte, sempre que eu me vi diante de uma pintura de Rodrigo Cunha, senti algo parecido.

Rodrigo Cunha