domingo, 31 de julho de 2011

Gerhard Richter na Pinacoteca

Betty, óleo sobre tela, 102x72 cm, 1988

Acabo de voltar da exposição do artista alemão Gerhard Richter na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Para resumir numa palavra: decepcionante. Segundo o release da própria instituição, são "27 pinturas escolhidas pelo próprio artista, desde os trabalhos de fotografia-pintura dos anos 1960 até as pinturas abstratas dos anos 1980 e 1990". Na verdade, desse já pequeno lote (de um artista que possui uma obra tão extensa), apenas 12 são pinturas originais, dessa última fase, a mais fraca do artista: um mero exercício de texturas e tonalidades, para quem não teme aceitar que mesmo um artista brilhante possui fases redundantes (as primeira séries abstratas são da década de 60). O restante das "imagens" são meras reproduções fotográficas, inclusive de sua famosa pintura "Betty", de 1988, vista acima. Eu sou da opinião que, se for para ver reproduções fotográficas de pinturas, eu prefiro vê-las em casa, em meu monitor widescreen de alta definição - mesmo que o próprio Richter às vezes reverta o processo de pintar a partir de uma fotografia, depois fotografando a pintura. Nada substitui a experiência de estar a um palmo de distância de uma pintura original.

Leitora, óleo sobre tela, 72x102cm, 1994
Leitora, óleo sobre tela, 51x71cm, 1994

A minha decepção foi ainda maior porque eu engrosso o coro de fãs de Richter, um artista irrequieto, original e corajoso. Sua maior coragem, a meu ver, foi libertar-se de um mandamento fundamentalista da arte, aquele que prega que um artista deve possuir um estilo imediatamente reconhecível, um obra coesa, que vai de A a B e depois a C. Quem procurar coerência na obra do artista alemão dará com a cara na parede, e muitas vezes a crítica não soube como classificá-lo. Diz Richter: "A teoria não tem nada a ver com a obra de arte. Uma pintura interpretável, que contém um significado, é uma pintura ruim. Uma pintura se apresenta como o Indisciplinável, o Ilógico, o Sem Sentido". Não ter um estilo próprio nem uma obra reconhecível, afinal, acabou virando o seu estilo. Quanto às hierarquias da arte, o artista é taxativo: "Eu não acredito em nada".

Mergulhador II, óleo sobre tela, 80x80cm, 1965

Uma das primeiras fases de Richter (nascido em Dresden em 1932) mostra pinturas borradas (uma de suas marcas registradas), feitas a partir de fotos que ele tirava ou pegava em jornais e revistas. Os borrões assumem um efeito duplo: dão à imagem um aspecto fotográfico, de um "erro" mecânico e, ao mesmo tempo, atestam a interferência do pintor sobre aquela imagem, dando-lhe plasticidade e um aspecto autoral ao que seria uma simples representação da realidade. Sobre esses trabalhos, diz o artista: "Eu nunca achei que houvesse algo faltando nas telas borradas. Pelo contrário: você pode ver muito mais coisas nelas do que numa imagem com o foco preciso. Uma paisagem pintada com tal exatidão força você a ver um número determinado de árvores claramente definidas, enquanto numa pintura borrada você pode enxergar quantas árvores quiser. A pintura é mais aberta".

Fausto, óleo sobre tela, 295x675cm, 1980

Tal mecânica de apreensão/cópia/representação da realidade é, em última instância, o que interessa ao artista, e tão somente - o tema é secundário. Richter pintou à exaustão carros, aviões, animais, maçãs, velas, nuvens, praias, prédios, portas, cortinas, flores, crânios, tubos. Mesmo os retratos são pintados de forma "fria" e impessoal, seja de sua filha Betty ou dos 48 ilustres retirados de uma enciclopédia. E, com o mesmo distanciamento, passou a pintar quadros abstratos, chegando ao máximo da sistematização com as "Cartelas de Cores", série iniciada em 1966 e que se estendeu até 2007. Outras fases incluem óleos sobre papel, aquarelas, desenhos, pinturas sobre fotografia, gravuras, "microsites" e a imensa série Atlas: 783 painéis com imagens que serviram de inspiração, direta ou indiretamente, para a obra de Richter.

25 Cores, esmalte sobre Alu-Dibond, 49,7cmx48,7cm, 2007


O que liga o artista da primeira imagem desta página ao artista desta última? O que deseja, de fato, Gerhard Richter? Talvez seja melhor refrearmos o nosso intelecto e nos entregarmos aos sentidos, pois, conforme ele mesmo disse: "Falar sobre pintura não faz sentido. Ao tentar transmitir alguma coisa através da linguagem, você a modifica. Você constrói qualidades que possam ser ditas, e deixa de fora aquelas que não podem ser ditas, que são sempre as mais importantes".

Não deixe de ver o completíssimo site do artista, no link ao lado.
Clique abaixo para ver uma entrevista com Gerhard Richter (sem legendas):

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Leminskiana nº 3

René Magritte, L'Empire des Lumières, óleo sobre tela, 1953-54


"Ut pictura, poesis..."
(Horácio)



    Para que serve a pintura
a não ser quando apresenta
    precisamente a procura
daquilo que mais aparenta,
    quando ministra quarenta
enigmas vezes setenta?


Poema de Paulo Leminski, publicado no livro "La Vie en Close" (Brasiliense, 2ª edição, 1991)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Adams Carvalho


Embora seja considerada inferior à obra artística e autoral (talvez injustamente), a ilustração requer um poder de síntese e uma objetividade muito difíceis de se atingir. Alguns artistas, no entanto, conseguem transitar com segurança e desenvoltura nos dois campos, como é o caso de Adams Carvalho.



Nascido em Sorocaba, SP, e morando na capital desde 1999, Adams se formou em Artes Plásticas pela Escola de Comunicação e Artes da USP em 2005. Atualmente é o ilustrador da coluna de Gilberto Dimenstein na Folha de S. Paulo e da Revista da Folha. Também já fez trabalhos de animação para a MTV Brasil.


Xilogravuras digitais, s/d

Cada técnica exige uma abordagem e um talento específicos. Em desenhos, aquarelas, nanquins, xilogravuras digitais, vetoriais, acrílicas sobre papel ou óleos sobre tela, Adams se mostra excepcional, com imagens sempre evocativas - e fica evidente o quanto o talento para compor narrativas de forma sucinta se revela também nas pinturas. O ilustrador alimenta o pintor e vice-versa.

Sem Título, acrílica sobre tela, 25x50cm, 2007

Ele também possui uma série extensa de acrílicos sobre tela que mostram ambientes vazios, geralmente com pouca iluminação, às vezes com o campo de visão quase rente ao chão. O efeito, novamente, é o equivalente a uma narrativa "aberta", onde podemos povoar esses ambientes com nossos próprios personagens - e fantasmas.


Para maiores informações e ver mais trabalhos, acesse o site do artista, no link ao lado.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ana Elisa Egreja

Há algum tempo venho garimpando o trabalho de pintores em vários sites, e tive a grata surpresa de descobrir muitos talentos, principalmente artistas jovens, que estão revitalizando a pintura e apontando novos caminhos para a figuração, aliando domínio técnico, originalidade temática e ousadia. E de todos esses artistas, a que mais me impressionou foi Ana Elisa Egreja, que possui um trabalho estupendo.

Poça, óleo sobre tela, 200x300cm, 2011

Ana Elisa formou-se em Artes Plásticas pela FAAP e fez parte do grupo 2000e8, que reunia, entre outros, Rodolpho Parigi e Renata De Bonis. O grupo, em essência e de modo mais do que louvável, defendia a pintura e fomentava o debate e a troca de ideias, apostando num formato e num meio que muitos insistem em subestimar. Manter-se dentro do espaço bidimensional de uma tela e de uma tradição milenar e povoada por grandes mestres não é para qualquer um. Conseguir uma voz própria é para os excepcionalmente talentosos, como Egreja.

Escada, óleo sobre tela, 160x130cm, 2011

Apesar da pouca idade (ela tem 28 anos) e da carreira ainda no início, a artista desenvolveu uma obra sólida e eloquente, que já passou por algumas fases temáticas, como a série "Dark Room", de um humor desconcertante. Nela, vemos animais - alguns de raças diferentes - em cópula ou situações inusitadas, sempre em ambientes carregados de informações visuais, beirando o kitsch - papéis de parede estampados, cortinas pesadas, poltronas aveludadas, além de objetos que ela espalha pela composição, como props de algum filme de David Lynch.

Honeymoon, óleo sobre tela, 200x180cm, 2010

Diz a artista: "Os animais são amorais e irracionais, e podem ser dóceis, repulsivos, ingênuos ou manipuladores por instinto... acho que é essa 'capacidade de tudo' que me interessa". À primeira vista, perguntei-me se um dia veremos pessoas povoando esse universo surreal de Ana Elisa. Troque-se "animais" por "seres humanos" e tem-se a medida da visão crítica da artista.

Guel, óleo sobre tela, 100x100, 2009

Quando falo em "surreal", refiro-me ao termo exato. Os surrealistas pregavam o "automatismo psíquico", sem a interferência da razão, e Buñuel muitas vezes filmava algo que havia sonhado, sem se importar com o significado. Segundo Ana Elisa, os temas vêm de forma natural, não planejada, e um elemento leva ao outro. Obviamente, mesmo ideias aparentemente sem explicação exigem mestria na execução - Buñuel podia filmar um sonho sem sentido, mas o fazia com brilhantismo e domínio do meio. Egreja, da mesma forma, possui domínio completo sobre a composição, com uma riqueza de detalhes vertiginosa, executados com precisão - fruto de até dez horas diárias de trabalho.

Janela, óleo sobre tela, 130x160cm, 2011

Eu me pergunto como Ana Elisa Egreja estará pintando daqui a dez, vinte anos. Será que os seres humanos um dia povoarão o seu mundo, onde a luz por vezes entra para revelar ambientes supercoloridos e ao mesmo tempo desolados? Uma coruja nos observa do peitoril de uma janela na cozinha. Como Buñuel e Lynch, Ana Elisa nos conta histórias estranhas e intrigantes, que nos acompanham para sempre, como toda grande obra de arte deveria ser.



Ana Elisa Egreja


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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Lucian Freud (1922-2011)

Reflection (Self-Portrait), ost, 1985

Faleceu há dois dias, em Londres, o pintor Lucian Freud. Ele foi o último dos grandes pintores, ou dos pintores "puros" - apesar de um breve flerte com o surrealismo nas primeiras obras, passou incólume por todos os movimentos, modismos e tendências do Século XX, e se firmou, com persistência, sabedoria e calma, como um dos maiores artistas de todos os tempos.

Interior in Paddington, ost, 1951

Lucian Michael Freud nasceu em Belim, em 8 de dezembro de 1922, filho de pais judeus (o arquiteto Ernst Ludwig Freud e Lucie Brasch) e neto de Sigmund Freud. Em 1933, fugindo do nazismo, sua família se mudou para a Inglaterra, onde ele viria a fazer diversos cursos de arte e pintura. Freud ganhou a cidadania britânica em 1939, e serviu na marinha mercante em 1941, sendo dispensado por problemas de saúde em 1942.

Large Interior (After Watteau), ost, 1981-83

A partir da década de 50, ele começou a pintar retratos - sempre de pessoas próximas, sempre com o modelo presente em inúmeras sessões que podiam durar meses ou anos. Freud afirmava que essa proximidade e essa convivência faziam surgir na obra final aspectos do retratado que uma simples fotografia não poderia captar. Em suas pinturas não há ornamentos ou subterfúgios: o que se vê são pessoas despidas, literal e figurativamente. Em última análise, Lucian Freud foi um retratista da alma humana.

Naked Portrait Standing, ost, 1999-2000

Em 2010, o crítico de arte Martin Gayford publicou o livro "Man with a Blue Scarf: On Sitting for a Portrait by Lucian Freud", onde narra os 40 dias em que posou para que o artista fizesse o seu retrato. Gayford descreve Freud como um artista totalmente comprometido com a pintura: "Toda a minha paciência foi para o meu trabalho, não sobrando nada para a minha vida", disse. Nas sessões, o crítico se viu diante de um retratista atento aos mínimos detalhes, com um "olhar onívoro". No retrato em questão, como define o título, Gayford usava um lenço azul no pescoço. Certo dia, ele notou que Freud estava tendo dificuldades em acertar o azul do tecido. Ao chegar em casa, comentou o fato com a esposa, que respondeu: "Qual dos dois você estava usando?" Ele não sabia que tinha dois lenços azuis. Ao examiná-los na luz do dia, percebeu que um era meio tom mais claro.

Lucian Freud e Martin Gayford

Sobre o seu retrato, Gayford afirma: "Ele revela segredos - velhice, feúra, imperfeições - que, suponho, eu esteja escondendo do mundo". O grande pintor confirma: "Eu pinto pessoas não pelo que elas parecem ser, nem exatamente apesar do que elas parecem ser, mas pelo que elas de fato são". Após a morte de Francis Bacon, em 1992, e agora, de Freud, o mundo está órfão de grandes mestres da pintura.


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Para assistir a uma rara entrevista com Lucian Freud, clique abaixo (sem legendas):

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Filmes sobre Pintores

Preparei uma lista com as principais cinebiografias de pintores famosos - das mais óbvias a algumas mais obscuras. Deixei de lado documentários, minisséries e filmes para TV e me concentrei em longa-metragens para o cinema. Os filmes estão em ordem cronológica crescente, do Rembrandt de Alexander Korda de 1936 ao Rembrandt de Peter Greenaway de 2007.


Rembrandt
Inglaterra, 1936
Diretor: Alexander Korda
O famoso ator inglês Charles Laughton interpreta o mestre holandês Rembrandt van Rijn no auge de sua fama, em 1642, quando sua adorada esposa morre e sua obra assume um tom sombrio e amargo que desagrada a seus patronos. O filme acompanha a decadência financeira e o ostracismo do pintor ao lado
da criada Hendrickje (Elsa Lanchester), com quem ele não pode se casar.


Moulin Rouge
Inglaterra, 1952
Diretor: John Huston
O filme acompanha a vida do pintor Henri de Toulouse-Lautrec e suas andanças pela noite parisiense. Filho de um conde, o artista francês sofre um acidente na infância que deforma suas pernas, provavelmente em decorrência de uma distrofia. Já adulto, passa a frequentar o Moulin Rouge, onde bebe conhaque e se envolve com prostitutas, que são retratadas em suas pinturas e cartazes, morrendo aos 36 anos de alcoolismo e sífilis. O ator José Ferrer interpreta o artista.


Sede de Viver (Lust for Life)
Estados Unidos, 1956
Diretor: Vincente Minnelli
Vincent Van Gogh é um prato cheio para qualquer cineasta: artista genial e trágico, obcecado por sua pintura, perturbado e incapaz de ter uma vida normal, que vive às custas do irmão Theo (James Donald). Kirk Douglas dá vida ao famoso holandês, que vende apenas um quadro em vida e tem pouquíssimos amigos, entre eles Paul Gauguin (Anthony Quinn, que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante).


Os Amantes de Montparnasse 
(Les Amants de Montparnasse / Montparnasse 19)
França, Itália, 1958
Diretor: Jacques Becker
Gérard Philipe interpreta o trágico pintor italiano Amedeo Modigliani em seu último ano em Paris, em 1919 (ele morreria em janeiro de 1920). Modigliani é apresentado à estudante Jeanne Hébuterne (Anouk Aimée), de família conservadora, que não aprova seu relacionamento com o pintor pobre e alcóolatra. Jeanne, que estava prestes a dar à luz pela segunda vez, se suicida um dia após a morte do artista.


Agonia e Êxtase (The Agony and the Ecstasy)
Estados Unidos, Itália, 1965
Diretor: Carol Reed
Um verdadeiro clássico, com cinco indicações ao Oscar, o filme mostra o embate entre Michelangelo (Charlton Heston) e o Papa Júlio II (Rex Harrison), durante a pintura do teto da Capela Sistina. Baseado no romance de Irving Stone, que dividiu o roteiro do filme com Philip Dunne. Curiosidade: a Capela Sistina
não pôde ser usada para as filmagens e teve que ser reconstruída nos estúdios da Cinecittà em Roma.


Andrei Rublev, O Artista Maldito (Andrey Rublyov)
União Soviética, 1966
Diretor: Andrei Tarkovsky
O controverso diretor de "Solaris", "Stalker" e "O Sacrifício" filmou a vida de Andrei Rublev (1360-1430), considerado o maior pintor russo de ícones, afrescos e iluminuras, canonizado pela Igreja Ortodoxa Russa em 1988. Sendo Tarkovsky quem é, espere tudo menos uma narrativa convencional. O filme, apesar de ter sido apresentado em Cannes em 1969, só foi lançado sem cortes na União Soviética em 1971,
e é considerado por muitos uma obra-prima.


El Greco
Itália, França, Espanha, 1966
Diretor: Luciano Salce
Pelo cartaz ("O homem... a época... ambos pegando fogo... agora em filme!") já dá pra perceber que a obra não é das mais felizes. O ator norte-americano Mel Ferrer interpreta o famoso pintor renascentista, nascido Domenikos Theotokópoulos na ilha de Creta e falecido em Toledo, na Espanha. Uma nova cinebiografia do pintor, também intitulada "El Greco" e dirigida pelo grego Iannis Samaragdis, foi lançada em 2007.


 Excesso e Punição (Exzesse)
Alemanha Ocidental, França, Áustria, 1981
Diretor: Herbert Vesely
Cinebiografia não-linear do pintor austríaco Egon Schiele (1890-1918), famoso por seus retratos nus, considerado por muitos pornográficos e grotescos, chegando a ser preso em 1912 por supostamente seduzir uma menor de idade (no filme, interpretada por Karina Fallenstein). O alemão Mathieu Carrière (o Jan de "Malpertuis") interpreta Schiele, e Jane Birkin dá vida à sua companheira Wally.


Caravaggio
Inglaterra, 1986
Diretor: Derek Jarman
    O diretor inglês, morto em 1994 em decorrência da AIDS, faz um retrato apaixonado - e livre - do pintor italiano, o maior gênio do Barroco. Nigel Terry interpreta Caravaggio na idade adulta, quando participa de um triângulo amoroso entre Ranuccio (Sean Bean) e Lena (Tilda Swinton, em seu primeiro papel no cinema). Com belíssimas fotografia e direção de arte, ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim.


Gauguin, Um Lobo Atrás da Porta 
(Oviri / Gauguin, Le Loup Dans le Soleil)
Dinamarca, França, 1986
Diretor: Henning Carlsen
Donald Sutherland interpreta o francês Paul Gauguin. Após uma longa temporada no Taiti, o artista volta para Paris na esperança de ter sucesso com pintor. Ao mesmo tempo, precisa enfrentar a mulher, os filhos e sua ex-amante. Max Von Sydow faz o escritor sueco August Strindberg (que, em 1895, se recusou a escrever um texto de apresentação para uma exposição de Gauguin, chamando-o de "selvagem")


Van Gogh - Vida e Obra de um Gênio 
(Vincent & Theo)
Holanda, Inglaterra, França, Itália, Alemanha, 1990
Direção: Robert Altman
O título asinino dado pela distribuidora do filme no Brasil dá a impressão de se tratar de um documentário sobre o artista holandês, e não o que o filme é: um retrato intimista da relação entre Van Gogh e seu irmão, Theodore. Destaque para a estupenda interpretação de Tim Roth. Originalmente concebido como uma minissérie de quatro horas para a BBC.


Dalí
Espanha, Bulgária, 1991
Diretor: Antoni Ribas
Cinebiografia um tanto pobre do amalucado pintor surrealista Salvador Dalí, aqui interpreado por Lorenzo Quinn, filho do ilustre Anthony Quinn. O filme se concentra em seu relacionamento com Gala (Sarah Douglas), a temporada que passaram em Nova York, em 1940, e sua colaboração com o cineasta
Luis Buñuel. Vale apenas como curiosidade.


Van Gogh
França, 1991
Diretor: Maurice Pialat
O Diretor de "Sob o Sol de Satã" (Palma de Ouro em Cannes em 1987) registra os últimos 67 dias de vida do pintor holandês, quando ele se muda para Auvers-sur-Oise, cercanias de Paris, para se tratar com
o Dr. Gachet. Jacques Dutronc ganhou o Prêmio César de melhor ator de 1992 por sua interpretação,
das onze indicações que o filme recebeu.


Carrington - Dias de Paixão (Carrington)
Inglaterra, França, 1995
Diretor: Christopher Hampton
O roteirista e diretor bissexto Hampton criou uma belíssima obra, que se concentra no relacionamento platônico e conturbado entre a pintora Dora Carrington e o escritor Lytton Strachey na Inglaterra vitoriana (ambos eram do grupo Bloomsbury, do qual fazia parte Virginia Woolf). Emma Thompson e Jonathan Pryce têm atuações impecáveis. Hampton ganhou o Grande Prêmio do Júri (concorria à Palma de Ouro) e Pryce,
o de Melhor Ator em Cannes de 1995.


Basquiat - Traços de uma Vida (Basquiat)
Estados Unidos, 1996
Diretor: Julian Schnabel
Filme de estreia do renomado pintor norte-americano Julian Schnabel (que viria a fazer também os ótimos "Antes do Anoitecer" e "O Escafandro e a Borboleta"). O filme mostra a curta trajetória do pintor neo-expressionista Jean-Michel Basquiat (1960-1988), que começou pintando grafitis nas ruas de Nova York até alcançar fama mundial, vindo a morrer de overdose de heroína aos 27 anos. Uma curiosidade
do filme é David Bowie no papel de Andy Warhol, seu "descobridor".


Os Amores de Picasso (Surviving Picasso)
Estados Unidos, 1996
Diretor: James Ivory
Baseado no livro de Arianna Huffington, co-roteirista do filme, trata-se das memórias de Françoise Gilot, uma das mulheres de Picasso, com quem teve dois filhos (Claude e Paloma). O título em inglês define o dilema de Gilot: como sobreviver a Picasso, um homem genial e genioso, encantador e infiel, generoso e dominador? Anthony Hopkins é sempre um bom ator, mas um Picasso falando inglês com sotaque britânico
é difícil de engolir. Com Natascha McElhone e Julianne Moore.



Artemisia
Itália, França, Alemanha, 1997
Diretora: Agnès Merlet
Artemisia Gentileschi (1593-1652) foi uma pintora barroca italiana, a primeira mulher a ingressar na Accadema di Arte del Disegno de Florença. Filha do pintor Orazio Gentileschi, é enviada para estudar com o mestre Agostino Tassi, a quem depois acusa de estuprá-la, num longo e penoso julgamento.
Indicado para o Globo de Ouro de 1998 como Melhor Filme Estrangeiro.


Lautrec
Espanha, França, 1998
Diretor: Roger Planchon
Diferente da cinebiografia de John Huston, que mostra as noitadas do pintor francês no Moulin Rouge,
o filme se concentra no próprio Lautrec (Régis Royer), principalmente em seu relacionamento com sua modelo Suzanne (Elsa Zylberstein). A cuidadosa reconstituição da época rendeu dois prêmios César (Figurino e Desenho de Produção) e Royeur ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Mar del Plata.


Love Is the Devil: Study for a Portrait of Francis Bacon
Inglaterra, França, Japão, 1998
Diretor: John Maybury
A tensão sexual latente nos quadros de Francis Bacon (1909-1992) é explorada neste filme, que se concentra no relacionamento do pintor britânico com George Dyer (interpretado por um então desconhecido Daniel Craig), 30 anos mais jovem. A semelhança física do ator inglês Derek Jacobi com Bacon é um achado. Os herdeiros do artista não autorizaram que nenhuma obra fosse mostrada. Como narrativa, está mais próximo do Caravaggio de Jarman do que de cinebiografias mais convencionais.


Goya (Goya en Burdeos)
Espanha, Itália, 1999
Diretor: Carlos Saura
Saura capta a fase final da carreira do mestre espanhol Francisco de Goya (1746-1828), durante o seu exílio voluntário em Bordeaux, na França. A fotografia de Vittorio Storaro (vencedor de três Oscar) é garantia de imagens esplendorosas, além dos "quadros vivos" interpretados pelo grupo La Fura dels Baus. Curiosamente, Franciso Rabal ganhou o Prêmio Goya (o mais importante da Espanha) pela sua interpretação.


Pollock
Estados Unidos, 2000
Diretor: Ed Harris
Verdadeiro tour de force de Ed Harris, que produziu, dirigiu e protagonizou a cinebiografia do pintor americano. Seu fascínio por Jackson Pollock (1912-1956) começou simplesmente porque seu pai lhe comprou um livro do pintor por achar que eles se pareciam. Lee Krasner, esposa do pintor, é interpretada com intensidade por Marcia Gay Harden, o que lhe rendeu um Oscar de Atriz Coadjuvante.


Frida
Estados Unidos, Canadá, México, 2002
Diretora: Julie Taymor
Projeto acalentado durante anos por Salma Hayek (que o produziu e protagonizou), o filme se concentra, como não poderia deixar de ser, no relacionamento conturbado de Frida Kahlo (1907-1954) com o pintor e muralista Diego Rivera (Alfred Molina), além dos flertes com gente da estatura de Leon Trotsky (Geoffrey Rush) e seu sofrimento físico. Ashley Judd tem uma participação luminosa como Tina Modotti.


Moça com Brinco de Pérola
(Girl with a Pearl Earring)
Inglaterra, Luxemburgo, 2003
Diretor: Peter Webber
O grande mérito dos roteiristas e do diretor foi fazer um filme com quase nada, pois pouco se sabe sobre a vida do pintor holandês Johannes Vermeer (1632-1675). O roteiro foi baseado na história, basicamente fictícia, da escritora Tracy Chevalier. Colin Firth e Scarlett Johansson se esforçam para dar algum estofo ao filme que se sustenta principalmente na bela fotografia e na direção de arte.


Rumo ao Paraíso (Paradise Found)
Austrália, Inglaterra, França, Alemanha, 2003
Diretor: Mario Andreacchio
Cinebiografia de Paul Gauguin (1848-1903), que abandonou uma carreira sólida como corretor em Paris, a família e os filhos, para tentar se firmar como pintor, indo depois passar uma temporada no Taiti. Kiefer Sutherland e Nastassja Kinski são desperdiçados num bote sem rumo, que nada tem a ver com a estúpida chamada que se lê no DVD brasileiro.


Modigliani, Paixão pela Vida (Modigliani)
Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Romênia, Inglaterra, 2004
Diretor: Mick Davies
Mais uma cinebiografa de Modigliani, esta inferior a "Os Amantes de Montparnasse". Assim como no filme francês, este também se concentra em seu último ano de vida em Paris. Andy Garcia interpreta o pintor italiano e Elsa Zylberstein é Jeanne Hébuterne, a trágica esposa. Uma curiosidade: a atriz francesa interpretou Suzanne Valadon no filme "Lautrec". Mais um subtítulo idiota - de onde sai essa gente?


Sombras de Goya (Goya's Ghosts)
Estados Unidos, Espanha, 2006
Diretor: Milos Forman
O grande diretor tcheco, vencedor de dois Oscar ("Um Estranho no Ninho" e "Amadeus") uniu-se ao roteirista Jean-Claude Carrière para pintar um quadro sombrio da Inquisição Espanhola. Goya (Stellan Skarsgard) vê sua musa Inés (Natalie Portman) cair nas garras dos inquisidores, enquanto o padre Lorenzo (Javier Bardem) tenta usar de sua influência para libertá-la.


Klimt
Áustria, França, Alemanha, Inglaterra, 2006
Diretor: Raoul Ruiz
O diretor chileno, ainda atuante aos 70 anos, faz um retrato livre e por vezes tortuoso do pintor austríaco Gustav Klimt (1862-1918), interpretado por John Malkovich. Em seu leito de morte em um hospital, Klimt se recorda da Viena do fim do século, das exposições em Paris, de sua família e suas muitas amantes. Uma curiosidade: o filme foi concebido pelo roteirista e diretor vienense Herbet Vesely, que em 1981 realizou o filme "Exzesse" sobre Egon Schiele, contemporâneo e amigo de Klimt.


El Greco
Grécia, Espanha, Hungria, 2007
Diretor: Yannis Smaragdis
O filme mais caro da história da Grécia (6 milhões de euros) dá com os burros n'água ao optar por um formato convencional e arrastado para narrar a vida do pintor El Greco. Exibido na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2008, a obra conseguiu ser odiada com unanimidade. Roteiro, atores, direção, trilha sonora - nada consegue ir além da mediocridade, prestando um verdadeiro desserviço à memória e à obra do grande pintor da Renascença Espanhola.


Ronda da Noite (Nightwatching)
Holanda, Canadá, Inglaterra, França, Polônia, 2007
Diretor: Peter Greenaway
O diretor britânico Peter Greenaway estudou pintura na juventude, e uma marca registrada de seus filmes são as composições inspiradas em quadros renascentistas, principalmente dos mestres flamengos. Neste filme, ele investiga o famoso quadro "Ronda da Noite", de Rembrandt, no qual o diretor acredita estarem os acusados de um crime. No ano seguinte, Greenaway faria o documentário "Rembrandt's J'Accuse...!", em que investiga mais a fundo a mesma obra do mestre holandês.