sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Muntean & Rosenblum

Legenda: "Meninas amadurecem mais rápido do que meninos, acho."

Uma das coisas mais raras nas artes plásticas, principalmente na pintura, é o trabalho colaborativo. Uma das únicas exceções que conheço é a dupla Muntean & Rosenblum. Markus Muntean nasceu em Graz, na Áustria, e Adi Rosenblum, em Haifa, em Israel. Ambos são de 1962 e começaram a trabalhar juntos em 1992.

Legenda: "O dia não nos promete mais do que o dia, e sabemos que ele tem uma certa duração e um fim. Nós esperamos em vão por algo que não sabíamos que estávamos esperando, e no fim não houve nada senão o lento cair da noite"

Sobre a parceria, diz Muntean: "A autoria dupla tem a mesma função que as margens brancas, que colocam a pintura entre parênteses. Essas margens brancas têm a conotação de história em quadrinhos ou monitores de TV. Elas nos permitem lidar com questões pictóricas e iconográficas, assim como a questão da autoria".

Legenda: "Nós olhamos um para o outro sem ver. Escutamos um ao outro
e ouvimos apenas uma voz dentro de nós mesmos."
Legenda: "O dia chegou ao fim de repente, deixando a sensação de sua brevidade,
deixando-nos aflitos por um sentimento que não conseguimos explicar."

A dupla usa composições reminiscentes do Renascentismo em suas pinturas para retratar uma juventude deslocada e apática, e complementa a obra com legendas que, antes de explicar ou limitar as imagens, oferecem um contraponto a elas, no que eles chamam de "ambiguidade exata": o que se explora é exatamente a falta de espiritualidade e de propósito dos jovens hoje em dia.

Legenda: "Errar no próprio caminho é melhor do que acertar no caminho alheio."

Legenda: "Mas, principalmente, houve um momento de silêncio absoluto... Uma leve luz solar, uma leve brisa, algumas árvores no horizonte. O desejo de ser feliz, a tristeza com a passagem do tempo, e a sempre encoberta verdade...
Só isso... Nada mais..."

Com uma técnica bastante depurada, Munten & Rosenblum criam pinturas monumentais, que o crítico Jonathan Jones, do Guardian, chamou de "um cruzamento entre Andy Warhol e Jacques-Louis David", referindo-se ao papa da Pop Art e o pintor neoclássico francês. Eu tive a oportunidade de ver suas obras na 26ª Bienal de São Paulo, em 2004, e pude constatar o impacto visual que elas causam.

As pinturas em exposição
Markus Muntean & Adi Rosenblum

Num mundo cada vez mais materialista e menos espiritualizado, a obra de Muntean & Rosenblum nos faz pensar na sociedade que criamos para nós mesmos, com adultos resignados e autômatos e e adolescentes indiferentes demais para desejar mudá-la. Numa das legendas da dupla, lê-se: "Não ter um passado nem um futuro visível, apenas o pulso constante de um presente imutável - como você se sentiria?"

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