quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pieter Hugo: os homens-hiena e o flagelo africano

Abdullahi Mohammed com Mainasara, Ogere-Remo, Nigéria, 2007
Meses atrás me deparei, por acaso, com a foto acima na internet. Um negro africano, musculoso, de vestes coloridas, segurando uma enorme hiena - animal selvagem e perigosíssimo - como se fosse um cão de estimação. Após pesquisar seu autor, acabei conhecendo o trabalho brilhante e perturbador do fotógrado Pieter Hugo.

Mallam Galadima Ahmadu com Jamis, Nigéria, 2005
Hugo nasceu em Joanesburgo, África do Sul, em 1976, e vive e trabalha na Cidade do Cabo. Seus trabalhos já foram publicados em importantes revistas e expostos em museus e galerias do mundo todo. Participou da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006. Também neste ano, a foto acima ("Mallam Galadima Ahmadu com Jamis") foi vencedora da categoria "Retratos" do importante prêmio World Press Photo.

Abu Kikan com Frayo, Asaba, Nigéria, 2007

Em 2005, o fotógrafo soube que um grupo de homens, com uma criança, três hienas, quatro macacos e algumas serpentes percorriam as ruas de Lagos, na Nigéria. Segundo boatos, eram ladrões de banco, traficantes de drogas ou cobradores de dívidas. Hugo pegou um avião para encontrá-los. Na verdade, tratava-se de um grupo de saltimbancos, que se apresentava com os animais e vendia poções medicinais.

Mallam Galadima Ahmadu com Jamis, Abuja, Nigéria, 2007
Os Homens-Hiena de Abuja, Nigéria, 2005

Hugo juntou-se ao grupo e viajou com eles durante oito dias. Ele tirou fotos de suas apresentações, mas não ficou contente com o resultado. Ele desejava um registro mais intimista desses homens-hiena. Dois anos depois, ele voltou à Nigéria para encontrá-los novamente. Dessa vez, houve uma familiaridade e uma intimidade maior, resultando em retratos, segundo ele, melhores.

Abdulai Yahaya, Gana
John Dollar Emeka, Enugu, Nigéria, 2008

O trabalho de Pieter Hugo (que pode ser visto em seu site, listado na barra ao lado) tem forte preocupação social e humanística. Seus temas vão dos vestígios do genocídio em Ruanda, em 2004, a personagens de Nollywood (a indústria de cinema da Nigéria), perfazendo um panorama de atraso, desolação, violência e miséria. Sintomaticamente, ao mostrar seus retratos dos homens-hiena na Europa, Hugo ouviu inúmeras pessoas preocupadas com o bem-estar dos animais. Diz ele: "Ao invés disso, nós deveríamos nos perguntas por que esses homens precisam usar animais selvagens para sobreviver. Ou por que eles são marginalizados economicamente. Ou por que a Nigéria, o sexto maior exportador de petróleo do mundo, vive em estado de indigência".

Clique abaixo para ver uma entrevista com Pieter Hugo (em inglês, sem legendas):

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