segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Homem Beckettiano de Peter Martensen

Escape, óleo sobre tela, 50x40cm, 2009

Toda a obra do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett (1906-1989) se baseia na premissa de que o Homem age de forma mecânica e desconhece os seus propósitos, diante da falta de sentido de sua existência - a mesma premissa encontrada na filosfia existencialista de Sartre e Camus. A obra do pintor dinamarquês Peter Martensen, a meu ver, ecoa essa visão.

The Face Test, óleo sobre tela, 90x110, 2007
The Movement, óleo sobre tela, 100x120cm, 2003

Martensen nasceu na cidade de Odense, em 1953. Estudou na Academia de Artes Plásticas de Odense, de 1971 a 1977, e na Academia de Artes Plásticas de Copenhague, de 1982 a 1984 - cidade onde vive até hoje. Começou a produzir sua melhor obra a partir do início da década de 90, ao retratar cenas de julgamentos, como o de Nuremberg (1945-46), o que o levou ao motivo das multiplicações, que seria o tema central de sua obra.

Act Study, óleo sobre tela, 140x190cm, 1996

Sobre o seu estilo, figurativo, monocromático e narrativo, Martensen prefere usar o termo realismo mental: "Uma pintura é, antes de mais nada, um espaço mental. É matéria da mente, assim como um objeto se torna ao ser percebido pelos olhos". Apesar disso, ele é reticente quanto a analisar a própria obra: "Nós devemos entender que a força da pintura é precisamente que ela está a uma grande distância da linguagem e muito perto dos sentidos; ela é pré-linguística, portanto contém muito mais informações, muitas das quais difíceis de se colocar em palavras. Por isso eu tenho que concordar com o pintor alemão Gerhard Richter quando ele diz: 'Minhas pinturas são mais inteligentes do que eu'".

Waterfront, óleo sobre tela, 80x100cm, 2004
Escape, óleo sobre tela, 120x100, 2002

Deixemos então crítico dinamarquês Carsten Odgaard analisar sua obra: "(...) na pintura de Martensen, a figura humana é destituída de toda personalidade e individualidade. Seus personagens são anônimos, seus traços são quase sempre iguais. São homens modernos comuns, medianos, sempre de camisa branca, calça escura, sapatos pretos e cabelos bem aparados. Tais personagens são tema central em sua obra, seja como uma figura solitária, seja como um ser isolado numa massa, um clone entre outros clones. Os clones por vezes apontam uns aos outros em reconhecimento, mas jamais criam um contato humano de fato, num mundo moderno que aliena o indivíduo".

Participants, óleo sobre tela, 155x185cm, 1995
Escape, óleo sobre tela, 120x100cm, 2002

Os personagens de Peter Martensen correm, mas não sabemos para onde. Eles também não sabem. Confabulam, sem um verdadeiro propósito. Eles se unem, mas permanecem solitários. Mas não parecem conscientes do absurdo, apenas continuam a correr. Pois é assim que todos fazem. Como diz um personagem de Beckett, "Se eu continuar chamando isso de minha vida, vou acabar acreditando. É o princípio da publicidade".


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