sexta-feira, 22 de julho de 2011

Lucian Freud (1922-2011)

Reflection (Self-Portrait), ost, 1985

Faleceu há dois dias, em Londres, o pintor Lucian Freud. Ele foi o último dos grandes pintores, ou dos pintores "puros" - apesar de um breve flerte com o surrealismo nas primeiras obras, passou incólume por todos os movimentos, modismos e tendências do Século XX, e se firmou, com persistência, sabedoria e calma, como um dos maiores artistas de todos os tempos.

Interior in Paddington, ost, 1951

Lucian Michael Freud nasceu em Belim, em 8 de dezembro de 1922, filho de pais judeus (o arquiteto Ernst Ludwig Freud e Lucie Brasch) e neto de Sigmund Freud. Em 1933, fugindo do nazismo, sua família se mudou para a Inglaterra, onde ele viria a fazer diversos cursos de arte e pintura. Freud ganhou a cidadania britânica em 1939, e serviu na marinha mercante em 1941, sendo dispensado por problemas de saúde em 1942.

Large Interior (After Watteau), ost, 1981-83

A partir da década de 50, ele começou a pintar retratos - sempre de pessoas próximas, sempre com o modelo presente em inúmeras sessões que podiam durar meses ou anos. Freud afirmava que essa proximidade e essa convivência faziam surgir na obra final aspectos do retratado que uma simples fotografia não poderia captar. Em suas pinturas não há ornamentos ou subterfúgios: o que se vê são pessoas despidas, literal e figurativamente. Em última análise, Lucian Freud foi um retratista da alma humana.

Naked Portrait Standing, ost, 1999-2000

Em 2010, o crítico de arte Martin Gayford publicou o livro "Man with a Blue Scarf: On Sitting for a Portrait by Lucian Freud", onde narra os 40 dias em que posou para que o artista fizesse o seu retrato. Gayford descreve Freud como um artista totalmente comprometido com a pintura: "Toda a minha paciência foi para o meu trabalho, não sobrando nada para a minha vida", disse. Nas sessões, o crítico se viu diante de um retratista atento aos mínimos detalhes, com um "olhar onívoro". No retrato em questão, como define o título, Gayford usava um lenço azul no pescoço. Certo dia, ele notou que Freud estava tendo dificuldades em acertar o azul do tecido. Ao chegar em casa, comentou o fato com a esposa, que respondeu: "Qual dos dois você estava usando?" Ele não sabia que tinha dois lenços azuis. Ao examiná-los na luz do dia, percebeu que um era meio tom mais claro.

Lucian Freud e Martin Gayford

Sobre o seu retrato, Gayford afirma: "Ele revela segredos - velhice, feúra, imperfeições - que, suponho, eu esteja escondendo do mundo". O grande pintor confirma: "Eu pinto pessoas não pelo que elas parecem ser, nem exatamente apesar do que elas parecem ser, mas pelo que elas de fato são". Após a morte de Francis Bacon, em 1992, e agora, de Freud, o mundo está órfão de grandes mestres da pintura.


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2 comentários:

  1. Conheci a obra de Lucian Freud há bem pouco tempo e fiquei feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por ter, enfim, descoberto esta beleza, e triste por só tê-la conhecido agora.
    A honestidade de suas pinturas emociona. Cada ruga, cada imperfeição é mostrada com tanta verdade e poesia que é impossível ficar indiferente a tamanha beleza!
    Ouvi um crítico de arte dizendo que ele pintava assim num tempo em que as obras abstratas estavam em alta e que ele chegou a ser até considerado “fora de moda” naquela época.
    O que sei é que ele é absolutamente genial!
    Sou apenas uma leiga e não tenho competência alguma para fazer qualquer leitura mais profunda sobre sua obra. O que sei é que fiquei sem palavras quando vi “Reflection”, e pude entender na hora que ali estava o que podemos chamar, verdadeiramente, de obra de arte.

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  2. É verdade, muitos pintores abandonaram a figuração durante a partir da década de 70 e começaram a fazer experimentos com outros suportes (fotografia, instalações etc), mas ele se manteve firme e verdadeiro. Nesse sentido, foi um solitário, e se manteve à margem de todos os modismos. Eu tive a mesma sensação que você ao ver, pela primeira vez, um quadro dele. Obrigado pelo comentário. Um grande abraço.

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