segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ana Elisa Egreja

Há algum tempo venho garimpando o trabalho de pintores em vários sites, e tive a grata surpresa de descobrir muitos talentos, principalmente artistas jovens, que estão revitalizando a pintura e apontando novos caminhos para a figuração, aliando domínio técnico, originalidade temática e ousadia. E de todos esses artistas, a que mais me impressionou foi Ana Elisa Egreja, que possui um trabalho estupendo.

Poça, óleo sobre tela, 200x300cm, 2011

Ana Elisa formou-se em Artes Plásticas pela FAAP e fez parte do grupo 2000e8, que reunia, entre outros, Rodolpho Parigi e Renata De Bonis. O grupo, em essência e de modo mais do que louvável, defendia a pintura e fomentava o debate e a troca de ideias, apostando num formato e num meio que muitos insistem em subestimar. Manter-se dentro do espaço bidimensional de uma tela e de uma tradição milenar e povoada por grandes mestres não é para qualquer um. Conseguir uma voz própria é para os excepcionalmente talentosos, como Egreja.

Escada, óleo sobre tela, 160x130cm, 2011

Apesar da pouca idade (ela tem 28 anos) e da carreira ainda no início, a artista desenvolveu uma obra sólida e eloquente, que já passou por algumas fases temáticas, como a série "Dark Room", de um humor desconcertante. Nela, vemos animais - alguns de raças diferentes - em cópula ou situações inusitadas, sempre em ambientes carregados de informações visuais, beirando o kitsch - papéis de parede estampados, cortinas pesadas, poltronas aveludadas, além de objetos que ela espalha pela composição, como props de algum filme de David Lynch.

Honeymoon, óleo sobre tela, 200x180cm, 2010

Diz a artista: "Os animais são amorais e irracionais, e podem ser dóceis, repulsivos, ingênuos ou manipuladores por instinto... acho que é essa 'capacidade de tudo' que me interessa". À primeira vista, perguntei-me se um dia veremos pessoas povoando esse universo surreal de Ana Elisa. Troque-se "animais" por "seres humanos" e tem-se a medida da visão crítica da artista.

Guel, óleo sobre tela, 100x100, 2009

Quando falo em "surreal", refiro-me ao termo exato. Os surrealistas pregavam o "automatismo psíquico", sem a interferência da razão, e Buñuel muitas vezes filmava algo que havia sonhado, sem se importar com o significado. Segundo Ana Elisa, os temas vêm de forma natural, não planejada, e um elemento leva ao outro. Obviamente, mesmo ideias aparentemente sem explicação exigem mestria na execução - Buñuel podia filmar um sonho sem sentido, mas o fazia com brilhantismo e domínio do meio. Egreja, da mesma forma, possui domínio completo sobre a composição, com uma riqueza de detalhes vertiginosa, executados com precisão - fruto de até dez horas diárias de trabalho.

Janela, óleo sobre tela, 130x160cm, 2011

Eu me pergunto como Ana Elisa Egreja estará pintando daqui a dez, vinte anos. Será que os seres humanos um dia povoarão o seu mundo, onde a luz por vezes entra para revelar ambientes supercoloridos e ao mesmo tempo desolados? Uma coruja nos observa do peitoril de uma janela na cozinha. Como Buñuel e Lynch, Ana Elisa nos conta histórias estranhas e intrigantes, que nos acompanham para sempre, como toda grande obra de arte deveria ser.



Ana Elisa Egreja


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