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Poça, óleo sobre tela, 200x300cm, 2011 |
Ana Elisa formou-se em Artes Plásticas pela FAAP e fez parte do grupo 2000e8, que reunia, entre outros, Rodolpho Parigi e Renata De Bonis. O grupo, em essência e de modo mais do que louvável, defendia a pintura e fomentava o debate e a troca de ideias, apostando num formato e num meio que muitos insistem em subestimar. Manter-se dentro do espaço bidimensional de uma tela e de uma tradição milenar e povoada por grandes mestres não é para qualquer um. Conseguir uma voz própria é para os excepcionalmente talentosos, como Egreja.
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Escada, óleo sobre tela, 160x130cm, 2011 |
Apesar da pouca idade (ela tem 28 anos) e da carreira ainda no início, a artista desenvolveu uma obra sólida e eloquente, que já passou por algumas fases temáticas, como a série "Dark Room", de um humor desconcertante. Nela, vemos animais - alguns de raças diferentes - em cópula ou situações inusitadas, sempre em ambientes carregados de informações visuais, beirando o kitsch - papéis de parede estampados, cortinas pesadas, poltronas aveludadas, além de objetos que ela espalha pela composição, como props de algum filme de David Lynch.
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Honeymoon, óleo sobre tela, 200x180cm, 2010 |
Diz a artista: "Os animais são amorais e irracionais, e podem ser dóceis, repulsivos, ingênuos ou manipuladores por instinto... acho que é essa 'capacidade de tudo' que me interessa". À primeira vista, perguntei-me se um dia veremos pessoas povoando esse universo surreal de Ana Elisa. Troque-se "animais" por "seres humanos" e tem-se a medida da visão crítica da artista.
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Guel, óleo sobre tela, 100x100, 2009 |
Quando falo em "surreal", refiro-me ao termo exato. Os surrealistas pregavam o "automatismo psíquico", sem a interferência da razão, e Buñuel muitas vezes filmava algo que havia sonhado, sem se importar com o significado. Segundo Ana Elisa, os temas vêm de forma natural, não planejada, e um elemento leva ao outro. Obviamente, mesmo ideias aparentemente sem explicação exigem mestria na execução - Buñuel podia filmar um sonho sem sentido, mas o fazia com brilhantismo e domínio do meio. Egreja, da mesma forma, possui domínio completo sobre a composição, com uma riqueza de detalhes vertiginosa, executados com precisão - fruto de até dez horas diárias de trabalho.
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Janela, óleo sobre tela, 130x160cm, 2011 |
Eu me pergunto como Ana Elisa Egreja estará pintando daqui a dez, vinte anos. Será que os seres humanos um dia povoarão o seu mundo, onde a luz por vezes entra para revelar ambientes supercoloridos e ao mesmo tempo desolados? Uma coruja nos observa do peitoril de uma janela na cozinha. Como Buñuel e Lynch, Ana Elisa nos conta histórias estranhas e intrigantes, que nos acompanham para sempre, como toda grande obra de arte deveria ser.
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Ana Elisa Egreja |
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