quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Renata De Bonis

War for Territory, óleo e cera sobre tela, 135x165cm, 2010

Uma das maiores dificuldades para um artista plástico, principalmente um pintor, é encontrar um estilo próprio, uma linguagem que o defina e o diferencie - contanto que eles lhe sejam naturais e não uma imposição de fora para dentro. Muitas vezes, leva-se anos para que esse estilo e essa linguagem se desenvolvam e se concretizem numa obra coesa; outras vezes, ela se cristaliza muito cedo e já mostra sinais de maturidade, como é o caso da pintora Renata De Bonis.

Heavy Soul, óleo e cera sobre tela, 165x135, 2010

Nascida em São Paulo, em 1984, Renata fez parte de um grupo de estudantes da FAAP (entre eles Ana Elisa Egreja, sobre quem já escrevi aqui) que uniram forças para abrir novos caminhos para a pintura, num mercado absolutamente dominado por outros suportes, técnicas e mídias. Tal estratégia deu certo: eles encontraram espaços expositivos e ganharam a imprensa - segundo eles próprios, até com certo exagero. Passado o frenesi midiático, Renata provou ter talento e possuir uma obra já amadurecida e pronta para novos direcionamentos.

Beyond Here, díptico, óleo e cera sobre tela, 170x200cm, 2010

De suas aulas com o pintor Paulo Pasta, na FAAP, Renata adquiriu a técnica de utilizar tinta óleo e cera, o que acabou definindo o seu estilo, esmaecido e monocromático, que lhe confere um caráter minimalista e fortalece o tema, extremamente narrativo. Renata é apaixonada por cinema, e suas pinturas fazem referências diretas e indiretas a seus cineastas prediletos - como a do início desta página, retirada de uma cena de "Intriga Internacional", filme de 1959 de Alfred Hitchcock. Em sua infância, viajava constantemente com o pai para os Estados Unidos, onde ficava a sede da empresa em que ele trabalhava. Daí vem o fascínio com a "América Profunda" tão visitada por Bob Dylan - de uma de suas músicas ela retirou a frase da pintura acima: "Além daqui não há nada além das montanhas do passado".

Old Country Song, óleo e cera sobre tela, 100x150cm, 2010

Outra característica de Renata é o fato de ela pintar paisagens, algo muito distante da produção da maioria dos pintores contemporâneos - e ela ter encontrado um estilo próprio e tão eloquente num gênero tão difícil é mais uma prova de seu talento. E tal característica acabou lhe rendendo um convite inestimável: no início de 2008, ela foi convidada para uma residência artística no Joshua Tree Highland House, no deserto de Joshua Tree, na Califórnia, onde ficou isolada durante um mês, o que resultou nas pinturas da série Harvest Memories, exibida na Galeria Laura Marsiaj, em 2010.

Noah's Washing Machines, óleo e cera sobre tela, 90x90cm, 2009

Renata De Bonis vê os Estados Unidos com o olhar de um estrangeiro - o mesmo do Wim Wenders de "Paris, Texas" e do Antonioni de "Zabriskie Point", este último filmado num deserto bem próximo a onde ela ficou. Os amplos horizontes, a aridez, a vegetação rasteira, a terra e o céu aberto encontraram eco na paleta de Renata, numa feliz conjunção.

Yucca Valley, óleo e cera sobre tela, 90x110cm, 2010
 
Diz a artista: "O calor beirando o insuportável, a solidão e o isolamento, os animais selvagens que me cercavam, a luz e o horizonte únicos do deserto resultaram em pinturas que espelham a minha experência nesse ambiente aparentemente inóspito". Renata me diz que esse olhar estrangeiro a encanta, e que viajar faz parte de seu trabalho. Viagens futuras certamente influenciarão a sua pintura, e novas paisagens hão de se imiscuir em sua paleta e em suas composições, ao mesmo tempo em elas próprias serão modificadas através da visão afetuosa e poética dessa pintora singular.

Renata De Bonis


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