segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pintores Chineses Contemporâneos

Zhang Xiaogang, Bloodline: The Big Family 2, óleo sobre tela, 180x230cm, 1995

Uma das sensações da 22ª Bienal de São Paulo, em 1994, foi Zhang Xiaogang (Kunming, 1958) sinalizando que havia uma arte vigorosa sendo produzida na China desde a década anterior, principalmente a pintura, o que se confirmou nos anos seguintes, com diversas exposições pelo Ocidente de artistas de sua geração. E a "febre" chinesa ainda não arrefeceu: em janeiro a março deste ano, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de São Paulo apresentou a exposição "Comunidade de Gostos: Arte Contemporânea Chinesa desde 2000".

Zhang Xiaogang, Bloodline: The Big Family 3, óleo sobre tela, 180x230cm, 1995

A série "Bloodline" de Xiaogang, feita durante a década de 90, mostra famílias chinesas em poses rígidas, em retratos de estúdio "oficiais", vestindo os ternos e túnicas que se tornariam o uniforme chinês durante a Revolução Cultural da Era Mao Tse-tung (1949-1976).

Wei Dong, Flag, acrílica sobre tela, 61x168cm, 2006

A herança maoísta está gravada no trabalho nos novos artistas chineses como uma cicatriz. Mesmo aqueles que eram criança durante os últimos momentos do regime foram profundamente influenciados por ele, como o brilhante pintor Wei Dong, nascido em 1968 em Chifeng, na Mongólia. Aos dois anos, sua família se mudou para Wuhan, na China, onde mais tarde ele estudaria Arte em Beijing. Seus quadros mostram cenas da China maoísta em composições clássicas ocidentais, repletas de símbolos. Uma curiosidade é sua preferência pela tinta acrílica, menos maleável, à tinta óleo.

Wei Dong, Lamb, acrílica sobre tela, 137x162cm, 2009


Uma nova geração, porém, optou por registrar cenas mais banais da China pós abertura econômica, como Liu Xiaodong (Liaoning, 1963), que se alia à chamada "Sexta Geração" do cinema chinês atual, que pratica o que já foi intitulado de "realismo cínico".

Liu Xiaodong, Bathers in the Sun, óleo sobre tela, s/t, 1990

Tantos nos filmes dessa geração de cineastas quanto nos quadros de Liu Xiaodong não há resquícios da austeridade da era comunista, mas pessoas comuns, em cenas banais, muitas vezes em paisagens que nada enaltecem o país - como no quadro abaixo, uma crítica à construção da barragem da hidrelétrica de Três Gargantas (a maior do mundo), que deslocou inúmeras comunidades à margem do Rio Yang-tse.

Liu Xiaodong, Three Gorges: Newly Displaced Population, óleo sobre tela, 300x1000cm, 2004

He Sen nasceu na província de Yunnan, em 1968, e possui uma grande série de pinturas onde se vê garotas de lingerie, contra um fundo cinza, fumando ou bebendo - talvez uma crítica ao período de transição da sociedade chinesa, agora perdida e abanonada ao consumismo e aos vícios do capitalismo?

He Sen, Pretty Dudu and Pretty Toy, óleo sobre tela, 199x248, 2008

He Sen, What Do You Want To Talk, óleo sobre tela 199x248cm, 2008


Um dos artistas chineses mais curiosos e famosos no momento é Yue Minjun (Heilongjiang, 1962). Suas pinturas, gravuras e esculturas mostram uma figura apenas: um clone do artista de boca escancarada, uma fileira interminável de dentes, os olhos fechados e o rosto ruborizado numa gargalhada cujo motivo já rendeu diversas teorias - jamais confirmadas pelo artista.

Yue Minjun, s/título, óleo sobre tela, 220x200cm, 2005

Seria uma gargalhada de vitória, após a abertura exigida à força nos protestos da Praça da Paz Celestial, em 1989? Seria uma risada cínica diante de um mundo globalizado e cada vez mais dependente da economia chinesa? Ou estaria ele, dolorosamente, rindo de si próprio? O teórico Li Xianting a descreve como "uma resposta autoirônica ao vácuo espiritual e à insensatez da China dos dias de hoje".

Yue Minjun, Between Men and Animal, óleo sobre tela, 280x400cm, 2005


Fang Lijun nasceu em 1963, na província de Hebei.  Também egresso da geração do "realismo cínico", seu trabalho possui parentesco com o de Yue Minjun, com figuras por vezes cômicas, por vezes grotescas, num sentimento de não-adequação aos novos tempos.

Fang Lijun, Series 1 #3, óleo sobre tela, s/t, 1991

Assim como Minjun, Lijun pratica uma pintura realista bastante rigorosa, mas contraposta a elementos pop e uma estética descaradamente kitsch.

Fang Lijun, 1993.1, acrílica sobre tela, 180x230cm, 1993

Eu me limitei a seis pintores (além de Ling Jian, publicado no post de 4 de agosto), mas há uma série de artistas chineses fazendo trabalhos brilhantes em fotografia, vídeo e outros suportes. Dividos entre um passado de opressão, que deixou cicatrizes na alma do país e moldou o seu caráter, e um futuro promissor porém incerto, esses artistas produzem uma obra instigante e cheia de significados, ao mesmo tempo mantendo o rigor técnico e uma riqueza visual que não são de agora, mas que pertencem à China milenar.

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