terça-feira, 22 de novembro de 2011

Nan Goldin

Kate Moss on a Horse like Lady Godiva, 2001
A foto acima é uma das mais belas que eu já vi, mas ela absolutamente não é a mais característica do trabalho de Nan Goldin. Só a coloquei porque não resisti. Quando pensamos em Nan Goldin, imaginamos logo camas desfeitas, corpos nus e abandonados, um cigarro, um copo de uísque, uma seringa talvez. Lady Godiva é uma exceção em seu léxico.

Nan and Brian in bed, NYC, 1983

Nancy "Nan" Goldin nasceu em 12 de setembro de 1953, em Washington, D.C., numa família judia de classe média. Seu mundo sofreu um forte abalo em 1965, quando a sua irmã Barbara, aos 19 anos, após inúmeros problemas com rapazes e confusa sobre a própria sexualidade,  cometeu suicídio deitando-se na linha do trem. Diz Goldin: "O psiquiatra da minha irmã disse que eu ficaria como ela. Eu pensei que cometeria suicídio aos 18 anos. Eu saí de casa aos 14 anos, e encontrei uma família. As drogas me libertaram. E depois viraram a minha prisão".

Rise and Monty on the Lounge Chair, NYC, 1988
Aos 15 anos, Goldin começa a se interessar por fotografia, e aos 20 faz sua primeira exposição, em Boston, onde já mostra os temas que lhe seriam mais caros: a comunidade gay e transexual da cidade, apresentada a ela pelo amigo David Armstrong, também fotógrafo. Em 1978, forma-se pela Escola do Museu de Belas Artes de Boston e decide se mudar para Nova York. Nan é romântica, insegura, autodestrutiva, talentosa e tem 25 anos, e Nova York está fervendo com a cena punk. O fogo encontra a gasolina.

Simon and Jessica in the Shower, Paris, 2001

Seu tema principal sempre foi o mundo imediatamente à sua volta: seus amigos, seus amores, suas noitadas, sua bissexualidade, seus excessos, sua solidão. Ela fotografa as pessoas com voracidade. Logo esse séquito se vê assombrado pelo fantasma da AIDS. Nos anos seguintes, seus amigos e amantes caem mortos como moscas. Diz Goldin: "Eu pensava que não iria perder as pessoas se as fotografasse bastante. Na verdade, as fotos só mostram o quanto eu perdi".

Gotscho kissing Giles, Paris, 1993

Já em 1979, Goldin inicia uma espécie de diário fotográfico chamado "The Ballad of Sexual Dependency", que chegou a centenas de imagens e foi lançado como um livro em 1986. Na década de 90, as suas imagens viraram icônicas, o seu estilo passou a ser copiado por fotógrafos e revistas de moda do mundo todo - o que deu origem ao termo heroin chic - que ela detesta. Em 1996, ela ganhou uma restrospectiva no Whitney Museum de Nova York, e em 2002 ganhou outra, no Georges Pompidou, em Paris. Em 2006, criou o vídeo Sisters, Saints & Sybils, onde tenta exorcizar o fantasma da irmã morta. A dor em Nan Goldin é real, e ela é, acima de tudo, uma sobrevivente.

Self-Portrait in the Mirror, Hotel Baur, Zürich, 1998


Veja o documentário "I'll Be Your Mirror" de Nan Goldin e Edmund Coulthard (em quatro partes, sem legendas em português):

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