terça-feira, 8 de novembro de 2011

Hugo Tillman

Film Stills of the Mind (Ai Weiwei), 2007

Em 2004, enquanto eu expunha em Miami, conheci o fotógrafo inglês Hugo Tillman, que era representado pela mesma galeria que eu. Nascido em Londres, em 1973, de familia rica, e radicado em Nova York, Hugo sobrevivia fazendo fotografia de moda - a contragosto - enquanto desenvolvia seu trabalho artístico. Meses depois, ele me visitou em São Paulo com a namorada (eu ofereci o meu apartamento, mas ele preferiu ficar num hotel decrépito no centro), e eu o levei a alguns museus. Ele pareceu menos interessado na arte brasileira do que na paisagem humana à sua volta.

Upper Class (Mrs. William Cluet), 2006

Upper Class (Gilbert Kahn and John Noffot), 2006

Na época, ele desenvolvia uma série intitulada Upper Class. Valendo-se de sua intimidade com os ricos, fazia retratos supostamente lisonjeiros, quando na verdade criava uma caricatura grotesca dos stinking rich de sangue azul. Nos anos seguintes, perdemos o contato, e agora fazendo minhas pesquisas tive o prazer de descobrir que Hugo percorreu um longo caminho - não sem dor - e encontrou a sua melhor expressão, delineando ao mesmo tempo um panorama da efervescente arte contemporânea chinesa.

Film Stills of the Mind (Jiang Jie), 2007
Film Stills of the Mind (Yu Hong), 2007

Em 2005, ele foi diagnosticado com transtorno bipolar. Diz Hugo: "Eram pequenos desequilíbrios em meu cérebro, resultado de uma vida de altos e baixos dramáticos, onde eu muitas vezes me encontrava sem dinheiro, num hotel barato de um país estrangeiro, com uma ressaca terrível. O meu diagnóstico foi um alívio, para dizer o mínimo, e eu decidi criar um projeto baseado em minha experiência com a psicanálise. Como o meu trabalho lida muitas vezes com a infiltração em subculturas, eu decidi procurar por empatia numa cultura sobre a qual eu fosse completamente ignorante, num esforço de criar um laço cultural através da experiência comum e da compaixão".

Film Stills of the Mind (Zhang Xiaotao), 2007
Ele continua: "Eu escolhi o mundo da arte contemporânea chinesa. Então eu hipotequei a minha casa e fui para Pequim, sem saber como eu alcançaria o meu objetivo sem conhecer a cidade ou as pessoas. Logo eu percebi que o mundo das artes em Pequim era incrivelmente aberto, sem as amarras de veludo metafóricas que você encontra no círculo das artes nos Estados Unidos e na Europa. Então eu criei a série Film Stills of the Mind em colaboração com os principais artistas chineses atuais".

Film Stills of the Mind (Li Dafang), 2007

Durante dois anos, Hugo viveu entre Pequim, Xangai, Guangzhou e Hangzhou, entrevistando artistas como Ai Weiwei, preso em abril deste ano por suposta evasão fiscal - especula-se que o real motivo tenha sido sua aberta oposição ao Partido Comunista da China (PCCh). Weiwei ficou 81 dias preso e agora terá que pagar uma multa de US$ 2,3 milhões ao governo chinês. Esses depoimentos podem ser ouvidos no site do artista (link ao lado), na seção Maplap, em inglês, italiano ou chinês. Diz Hugo: "Este trabalho começa a dar forma a uma relação autônoma que está se desenvolvendo organicamente entre mim e minha geração e a China. Foi a primeira de, espero, muitas incursões à China, com os artistas chineses falando o que pensam".

Daydreams of Mine (The Old Man and...), 2008

Em 2008, Hugo passou seis dias em Havana, fazendo intevenções e fotografando, com apoio do governo cubano. São composições encenadas, algo surreais, seu "pequeno ponto de vista dessa cidade de contrastes". Ao mesmo tempo, termina o seu curso de Filosofia pela Universidade de Oxford. Entre os bairros mais ricos de Nova York e Londres e os mais depauperados de Pequim ou Havana, Hugo segue tentando compreender a dimensão humana do nosso mundo, para, em última instância, compreender a si mesmo.



Hugo Tillman

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