Mas o grande problema do filme, a meu ver, é exatamente Montgomery Clift, que passa o filme como se estivesse no meio de uma crise de colite (da qual ele de fato sofria), os olhos esbugalhados e a boca entreaberta, como se estivesse vendo um monstro num filme de terror. Se a decadência física e psicológica de "Monty" haviam caído como uma luva em "Os Desajustados" e em sua única e pungente cena em "Julgamento em Nuremberg" (1961), aqui ela é apenas estranha e fora de lugar, ainda mais quando sabemos que Sigmund Freud era um homem calmo e de fronte serena. Monty era um grande ator, mas no fim da vida - ele morreria em 1966, aos 46 anos - o excesso de álcool, drogas e medicamentos, aliado à sua homossexualidade reprimida e ao acidente de carro que o havia desfigurado em 1956 o impedia de se concentrar e atuar como nos primeiros anos. Ele teve tantos problemas de saúde durante a fimagem de "Freud" que a Universal o processou pelos dias de atraso. No final, o filme foi um sucesso de bilheteria e ele conseguiu um acordo favorável.
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Monty no início da carreira e depois do acidente |
Monty Clift virou um astro já em seu segundo filme, "Rio Vermelho" ("Red River", 1948), onde atuou ao lado de John Wayne. Em 1951, protagoniza "Um Lugar ao Sol" ("A Place in the Sun"), com Elizabeth Taylor, sua grande amiga até o fim. Era o único ator de Hollywood que poderia rivalizar com Marlon Brando em matéria de talento e beleza, mas tinha uma personalidade frágil e era chegado numa birita e em medicamentos fortes. Em 1953, veio a consagração definitiva com o clássico "A Um Passo da Eternidade" ("From Here to Eternity"), ao lado de Burt Lancaster (há uma cena em que os dois estão bêbados - consta que Lancaster estava atuando, mas Monty tinha mesmo enchido a cara.
Em 1956, após sair de uma festa na casa de Liz Taylor, Monty enfia o seu Chevrolet numa árvore, ficando desfigurado (virou até música do The Clash, "The Right Profile": Monty's face is broken on a wheel / Is he alive? Can he still feel?). Liz correu para ajudá-lo e salvou sua vida, retirando dois dentes que ficaram entalados em sua garganta. Seu rosto foi reconstruído, mas, a partir daí, foi só ladeira abaixo. Durante as filmagens de "Os Desajustados", Marilyn Monroe, outra perturbada, disse: "Monty é a única pessoa que eu conheço que está pior do que eu".
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Monty e Liz Taylor em "A Place in the Sun" |
Uma última e pessoal nota sobre Freud: em 2001, eu fui convidado para participar de uma exposição coletiva na cidadezinha de Langenlois, na Áustria (na verdade uma maluquice num terreno baldio com um bando de artistas russos e um grupo punk local). Obviamente, na primeira oportunidade, fugi para Viena. Mas antes de visitar os museus e ver obras de Klimt, Schiele e cia, fiz questão de ir visitar o apartamento em que o Dr. Freud viveu e clinicou durante tantos anos, na Berggasse 19, no nono distrito de Viena. No local há alguns móveis que pertenceram a Freud, inclusive o famoso divã, mas o endereço foi transformado num pequeno museu para vender quinquilharias. Gostei de entrar naquele pequeno prédio, mas algo se perde nesses locais turísticos. De qualquer forma, comprei um isqueiro com uma frase de Freud e fui embora.
Gostei, as críticas são coerentes.
ResponderExcluirGostei, as críticas são coerentes.
ResponderExcluirMontgomery clifit eterno amado sempre.
ResponderExcluir101 anos de vida Mont.
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