sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Justin Mortimer

Bureau, óleo sobre tela, 184x243cm, 2011

Desde a invenção da fotografia (o primeiro registro foi em 1826), sua relação com a pintura passou por diversas fases. A princípio, ela tomou da representação pictórica a primazia sobre o retrato, por um lado democratizando-o, e por outro libertando os pintores do realismo - ela foi, em parte, propulsora do Modernismo. Durante o Século 20, os pintores, em maior ou menor grau, utilizaram a fotografia como ponto de partida para suas pinturas, o que até hoje não é visto com bons olhos pelos mais puristas. Alguns, como os hiper-realistas surgidos nos anos 70, esforçaram-se para mimetizá-la, enquanto outros a usaram como um ponto de partida para experiências mais livres. Em anos mais recentes, com o advento da fotografia digital e de programas como o Photoshop, muitos pintores abraçaram-na como parte essencial do processo de composição de imagens. É a esse grupo de artistas que pertence Justin Mortimer.

Cadet, óleo sobre tela, 160x160cm, 2011
Untitled, óleo sobre tela, 185x226cm, 2010

Mortimer é inglês e nasceu em 1970. De 1988 a 1992, estudou na Slade School of Art de Londres, onde ele vive e trabalha. Sua primeira exposição coletiva aconteceu em 2004, e já em 2006 ele fez a sua primeira individual, na Galerie Bertin-Toublanc em Paris. Sua exposição mais recente intitula-se Häftling ("prisioneiro", em alemão) e ocorreu este ano na Mihai Nicodim Gallery, em Los Angeles. Segundo o crítico David Trigg, são "pinturas sombrias e enigmáticas, repletas de inquietude.Suas narrativas ambíguas e excêntricas revelam estados psicológicos e abordam a alienação, a solidão ontológica e a fragilidade do corpo humano".


Foyer, óleo sobre tela, 218x188cm, 2010
Hill, óleo sobre tela, 61x81cm, 2009

Apesar de ser um pintor, o processo criativo de Mortimer passa, obrigatoriamente, pela fotografia. Numa primeira fase, ele tira fotos e também as coleta de revistas, livros médicos ou de qualquer outro meio. Em seguida, ele produz colagens com essas fotos no Photoshop, que depois são transferidas para a tela, mas não de forma definitiva. O processo pode ser invertido - a pintura é fotografada, digitalizada e novos elementos são acrescidos no arquivo digital, que mais uma vez é transposto para a tela, modificando-a. Esse processo de vai-e-vem pode resultar em até 15 colagens, segundo o artista.

Häftling, óleo sobre tela, 184x228cm, 2010
Family Plot, óleo sobre tela, 61x76cm, 2007

O processo criativo do pintor inglês, assim como seu repertório de imagens, lembra o trabalho do pintor Eduardo Berliner (Rio de Janeiro, 1978), contemplado com o Prêmio Marcantonio Vilaça em 2010 e o primeiro brasileiro a fazer parte da Coleção Charles Saatchi. O uso de imagens fotográficas e a colagem não são novidade; muitos pintores já se utilizaram delas para compor imagens, assim como a justaposição e a retirada de camadas de tinta e/ou outros materiais há muito fazem parte do processo de criação de vários deles. Talvez a única novidade seja que o processo, que antes era manual e mecânico, agora possui uma etapa digital.



Justin Mortimer em seu ateliê


Para ver mais trabalhos, acesso site do artista, na barra de links ao lado.

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